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Após ataques a memorial, grupo homenageia mulheres negras vítimas de feminicídio na Ufba

A fim de aproveitar o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado nesta terça-feira (20), um grupo de estudantes da Universidade Federal da Bahia (Ufba) decidiu realizar uma homenagem às mulheres negras que são vítimas de feminicídio. O evento será das 17h às 20h, no memorial dedicado às vítimas desse crime, no campus de Ondina. Uma das organizadoras do ato, a estudante Juliana Roiz antecipa que a programação conta com grafite, música, poesia, performances e um espaço com microfone aberto para que as mulheres presentes possam se manifestar. Mas, além disso, o ato também demonstra resistência contra os ataques sofridos pelo memorial desde as eleições. Responsável por criar a instalação, Juliana afirma que a intervenção foi erroneamente vinculada a partidos políticos e, então, atacada por opositores. Um exemplo disso foi o incidente envolvendo o Movimento Brasil Livre da Bahia (MBL-BA), na última terça (13). Integrantes do grupo planejavam realizar o “enterro” do Partido dos Trabalhadores na Faculdade de Comunicação da Ufba (saiba mais aqui), mas, ao saber que havia uma instalação de feminicídio com cruzes e caixões, decidiram transferir o ato para lá. “Eles fizeram esse vídeo, [dizendo] que nada melhor do que enterrar o PT onde Marielle [Franco] estava enterrada. Ninguém falou absolutamente nada pra eles, não teve nenhum tipo de hostilização por parte dos alunos. Eles ficaram passeando com o caixão, só que chegou um determinado ponto que eles invadiram o espaço onde estavam as cruzes. Aí, nesse processo, eles derrubaram, levaram esses dois caixões dizendo que iam botar fogo nos caixões, aí os alunos que estavam lá, numa tentativa de proteger o memorial, deram as mãos e fizeram um cerco pra impedi-los de continuar vandalizando”, descreve. Juliana ressalta que não pode acusar o movimento de retirar cruzes do local, mas denuncia que diversas sumiram, inclusive a da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). (Por: BN)

A edil foi executada no dia 14 de março deste ano, no Rio de Janeiro, e os órgãos de investigação ainda não identificaram quem mandou matá-la nem com qual pretensão (saiba mais aqui). Já o MBL afirmou que foi ameaçado pelos estudantes e que prestaria um Boletim de Ocorrência contra eles. Diante desse contexto, a estudante solicitou um apoio da Ufba para a realização do evento de hoje e conta que recebeu uma confirmação da instituição. “A reitoria está dando todo o suporte pra gente, eles assumiram o memorial agora como patrimônio público da Ufba e vão ajudar a custear o reparo dos danos que eles causaram, estão dando o maior suporte a gente”, ressalta. Procurada pelo Bahia Notícias, a assessoria de comunicação da universidade disse apenas que “acolheu a iniciativa” de um grupo de mulheres estudantes da Ufba.

INSTALAÇÃO

Embora diversas versões sobre o surgimento da instalação circulem pela internet, Juliana revela que criou o memorial em janeiro, como parte de um trabalho feito para a disciplina “Rito e Performance” do curso de Direção Teatral. A vereadora Marielle Franco só passou a fazer parte do memorial, com uma cruz de destaque, em meio à realização do Fórum Social Mundial de 2018, no mês de março. “É um trabalho até muito maior do que a instalação, mas a instalação por si só está tendo uma força porque a ideia era justamente chamar atenção e provocar reflexão, mas, de qualquer maneira, é muito triste saber que a gente está vivendo esse momento que uma manifestação artística, pacífica e passiva possa sofrer um ataque desses dentro de um espaço universitário de uma universidade pública”, desabafa. Além de cruzes perdidas, o caixão da intervenção também foi pichado. No ato de hoje, as estudantes devem repor alguns desses objetos para restaurar o memorial.