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Comandante-geral da Polícia Militar da Bahia critica quantidade de dias do Carnaval de Salvador

O comandante-geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Anselmo Brandão, criticou a quantidade de dias do Carnaval de Salvador. Para ele, “temos que repensar” o tamanho da folia momesca. “Da forma como está… O Carnaval é cinco dias. Nós estamos indo para 12 dias. Isso é um absurdo. Não tem tropa que aguente, recursos que aguente. O governo estado tem feito muito esforço nesse sentido”, afirmou Brandão. O coronel também disse que a atuação da Polícia Militar vai ser diferente com atrações como os arrastões da BaianaSystem e Igor Kannário. “Você não vai ver a polícia no miolo, no meio das pessoas disputando espaço. Vamos ficar nas laterais acompanhando. As pessoas vão ver a polícia distante. Na hora que tiver os problemas, nós formos chamados ou vivenciamos alguma cena, nós chegaremos. O grande problema de Salvador, que às vezes gera violência, é a disputa de espaço. Um lugar pequeno com polícia no meio é complicado. Vamos adotar essa postura esse ano”, informou. Outra novidade para a festa é a leitura facial das pessoas que passam pelos portais. “Temos um banco de dados atrelado ao centro de operações. Então quem passar nos portais as pessoas podem ser avaliadas. Quem tiver mandado de busca em aberto, prisões, elementos fugitivos. Algum histórico criminal, nós iremos identificar e o objetivo é capturar e tirar do circuito”, detalhou. Confira a entrevista completa:

Para começar, comandante, quais as novas ações traçadas pela PM para combater mais efetivamente os índices de violência registrados no estado?
Na verdade, como já estou no comando há quatro anos, tenho que falar do começo até o que estamos hoje. Quando começamos, nós adotamos algumas estratégias e hoje estamos colhendo os frutos do trabalho que já havia sendo realizado. Com relação à violência e número estatísticos. Acontece a todo momento, a todo instante, mas na Bahia, na parte da Polícia Militar, percebemos uma melhora na sensação de segurança e nos indicadores criminais. Nos últimos oito anos, nós nunca pontuamos em todos indicadores como números positivos. Roubos a coletivo, reduzimos. Homicídios, reduzimos. Roubo a veículos, reduzimos. Roubo a instituição financeira, reduzimos. Foi uma marca que no ano de 2018 mostrou que todo o trabalho foi feito nos últimos três anos estamos colhendo os frutos. Mas a segurança pública a gente sempre trabalha com novas estratégias e elas são aperfeiçoadas. A gente espera em 2019 [melhorar os índices], com formação dos novos policiais militares e diante da dinâmica que estamos operando no Estado. Em Salvador estamos com redução de 21% desde o ano passado. Porque hoje nós adotamos uma nova forma de combater o crime. Por exemplo, nós temos uma ferramenta fantástica que é o Graer, o uso do helicóptero. A gente só usava ele em situações emergenciais. E hoje, não. Usamos praticamente em todos os dias nas manchas criminais. Nós saímos em Salvador com uma média de 25 homicídios por semana para 16/17 por semana. 

A PM dispõe de quantos helicópteros?
Quatro helicópteros. São três esquilos e um maior.

Dado a efetividade do uso, há interesse de ter mais?
Com certeza! Nós já estamos trabalhando para otimizar a nossas bases avançadas de aviação. Já temos uma ativada em Barreiras. Vamos ativar em Lençóis. Então eu acredito que esse ano, com recursos do governo federal, nós já vamos viabilizar a aquisição de mais dois.

O senhor falou de recursos do governo federal, mas o governador sempre fala que está demorando de repassar esses recursos. Ainda assim a meta segue para esse ano?
Segue para esse ano. Foi uma das propostas. O governador tem pedido ao governo federal para diminuir a burocracia porque os recursos já foram disponibilizados pelo presidente anterior e falta ajustar os protocolos para esses recursos serem direcionados para os estados.

Há dois anos, a prefeitura promoveu mais uma festa de Carnaval, que foi o “Pipoco”, com algumas atrações na terça-feira. Na época, a Secretaria de Segurança Pública criticou a decisão por conta do contingente policial. Mas esse ano, a festa vai ocorrer novamente. Houve diálogo entre os órgãos competentes dessa vez? A PM vai reforçar o policiamento para a festa?
Com certeza! Vamos fazer. Não vai sofrer prejuízo. Vou na mesma linha do secretário de Segurança Pública e o governador. Nós temos que repensar os dias do Carnaval de Salvador. Da forma como está… O Carnaval tem cinco dias. Nós estamos indo para 12 dias. Isso é um absurdo. Não tem tropa que aguente, recursos que aguentem. O governo estado tem feito muito esforço nesse sentido. Mas o Pipoco vai acontecer. Nós teremos a presença de Leo Santana. Já está tudo ajustado.
E quanto ao Carnaval de Salvador, qual a estratégia de cobertura da PM neste ano?
A cada ano estamos investindo muito em tecnologia. O grande marco dos últimos Carnavais. O primeiro que fizemos, em 2015, tivemos índices muito negativos. Não tínhamos o portal de abordagem. De lá para cá só estamos ganhando a cada ano. Ano passado não tivemos nenhuma pessoa que foi vitimada no Carnaval. Só teve um episódio na Graça. Fora do circuito, que não tem nada a ver com o Carnaval. Para este ano a grande novidade será a leitura facial das pessoas que passam pelos portais. Temos um banco de dados atrelado ao centro de operações. Então quem passar nos portais eles podem ser avaliados. Quem tiver mandado de busca em aberto, prisões, elementos fugitivos. Algum histórico criminal, nós iremos identificar e o objetivo é capturar e tirar do circuito. Essas câmeras já fazem parte do processo de câmeras que têm na cidade, na SSP. É seletivo. As pessoas passam normais. Quando é feita leitura facial, dá um sinal de alerta.

A prefeitura anunciou um sistema para que agentes da Transalvador usem câmeras na farda. É similar ao usado por forças policiais de outros lugares do mundo. Tem alguma expectativa de a PM também incorporar esse sistema?
Acredito que sim. Como disse anteriormente, estamos caminhando atrelado às novas tecnologias. Eu acho viável. Nós já temos nas nossas viaturas. Temos câmeras embarcadas. É um avanço, até para transparência. Auxiliar a justiça. Vamos ver o que funciona na Transalvador. Tudo demanda custos. Não temos uma polícia pequena. Temos uma polícia grande. Mas o governador gosta de tecnologia, se for bom para a sociedade, não vai ter problema.

Enquanto comandante da PM, como o senhor avalia o projeto do governo federal que propõe a isenção de PMs que possam matar em serviço, caso a ação dele seja justificada como “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”?
Olha bem. Está havendo uma falta de interpretação, dizendo como se fosse matar em serviço. Não é matar em serviço. Nós sabemos que nós temos nossas excludentes de criminalidade. Isso sempre aconteceu. O que o governo está querendo é que fique mais claro na lei a forma como as coisas acontecem para que evite diversas interpretações. Existem diversas situações em que o policial militar, por estar numa linha tênue, ele não sabe naquele momento… tanto que vocês viram o episódio que aconteceu agora em Feira de Santana. O policial foi agredido. Ele estava armado. Ele agiu daquela forma porque estava preocupado pelas formas como as leis poderiam ser interpretadas. Às vezes o policial recua por receio do Ministério Público, das próprias ações que vão depois julgá-los. Mas a proposta do ministro tem sentido de dar mais legitimidade, fortalecimento da ação policial. Agora tem um detalhe, na lei fica claro: é o juiz que vai ser o julgador da ação. Ninguém está dando salvo conduto aos policiais.

Mas o termo “violenta emoção” não pode dar margem para mais interpretações?
Depende de quem vai julgar e circunstância. Cada caso é um caso. Pegar casos policiais como se fosse regra é muito perigoso. Emoção interfere, ambiente. Tudo interfere na ação policial. Não tem uma receita de bolo. Acho que nenhum momento a lei está dando salvo conduto para os policiais matarem.
Como estão os investimentos da PM na formação de policiais para participar da Ronda Maria da Penha? A proporção menor de mulheres na corporação prejudica uma abordagem “mais próxima” da realidade das mulheres?
Não, inclusive temos até que tirar esse preconceito de achar que para trabalhar na ronda Maria da Penha tem que ser mulher. Não é bem assim. Claro que a mulher tem mais sensibilidade. A relação é mais tranquila por ser mulher. Mas temos bons policiais homens trabalhando na Ronda Maria da Penha. E digo aqui que a Ronda Maria da Penha baiana é uma das melhores do Brasil. Estamos em 13 cidades, e a meta é ampliar esse serviço. É prevenção primária. A gente faz o trabalho de acompanhamento, junto com a Delegacia da Mulher e fora outras ferramentas de controle.

Melhorar os índices do Ideb é uma das principais metas estabelecidas pelo governador Rui Costa. O senhor acredita que a expansão do Sistema CPM nas escolas municipais poderá apontar um progresso nesses índices a partir do próximo ano? Se não, quando? Existe uma meta para isso?
O Ideb do Estado eu acredito que são escolas administradas pelo colégio do estado. Nosso caso aqui é com os municípios. Qual é a proposta? Nós estamos oferecendo para o município a tecnologia do colégio da Polícia Militar. O Município adota se quiser. É tecnologia, modelo ou formato de uma educação que entra o pedagógico e entra o disciplinar. Os prefeitos estão pedindo o auxílio da polícia para ajudar eles no disciplinar. Não vou dizer que o professor perdeu autoridade em sala de aula. Mas o disciplinar nosso não é só para você dar regramento para o aluno, mas também busca muito a cidadania. Nós perdemos muito nas escolas. O que faz: contrata cinco policiais aposentados, coloca na escola. A escola continua com a parte pedagógica, administrando toda a escola, e os policiais acompanham com os professores a vida dos meninos. Eles têm ritos, hino da bandeira. Em sala de aula eles têm líder de turma. Tudo isso envolve a criança. Hoje o tempo pedagógico dos professores está diminuindo. A escola se torna um caos. As crianças ficam desmotivadas. É uma contribuição. Não é uma militarização. É diferente. Nossos colégios da polícia, eles são mais militarizados, que têm militarização. Do município não. É só disciplina e pedagogia. 

Sãos os municípios que procuram a polícia?
Procuram a polícia. A gente faz a avaliação da escola, junto com o município. Não é imposto. É muito democrático. Nós temos uma reunião com os pais, com os professores e com o Ministério Público. Uma assembleia aberta ao público. E eles lá dizem: vocês querem o modelo? Bem democrático.

Nos últimos meses, o governo da Bahia emprestou cerca de 100 PMs para ajudar a conter os ataques no Ceará e não faltaram críticas à decisão. O efetivo policial da Bahia hoje é suficiente para cobrir toda o estado? Se não, qual a região em situação mais desfavorável?
Olhe bem, não é ideal, mas é o real. E vou dizer o porquê. O governo já explicou uma vez. Para a necessidade, nós temos que ver as condições do Estado. Nosso estado é um estado pobre em termo de renda per capita. Para botar 44 mil que é o previsto, a nossa previdência vai estourar, não vai conseguir pagar salário. É complicado. Mas o governador Rui Costa tem adotado uma postura, que a gente faz reposição de efetivo. Ou seja, o que eu perco eu reponho, e com mais algum ganho. Mas não tem como de uma hora para outro a gente contratar o ideal que a sociedade exige. 

Uma nova música do cantor e deputado federal Igor Kannário envolve a PM, criticando a abordagem da Polícia Militar da Bahia com os versos: “Se eu tô passando na boa, você vai eu também vou. Peça licença, meu velho, ninguém aqui é invisível. Siga na paz, também tô indo… É no respeito e no limite. A favela tá avisando pra não ter disse me disse”. Como a PM enxerga essa aposta do artista-político para o Carnaval. Acredita que é uma afronta?
Eu só queria que ele mudasse a frase. Assim como ele disse que a PM tem que passar numa boa. Pedindo licença. Quando ele cantasse, ele dissesse que aqui também tem policiais que merecem… Vamos contribuir com a polícia. O trabalho deles é um trabalho que exige paciência da gente, e entender. Não é assim que acontece no terreno. A gente percebe que as músicas que ele toca, não quero nem falar desse assunto dele. Na última vez gerou polêmica. Para ele foi até bom que deu muitos seguidores, muitas curtidas, milhões de visualizações. Então, eu me reservo a falar essa questão. Mas dizer – só para ele não –  para os cantores que adotam esses estilos de músicas, e às vezes geram violência nos trios, é que eles sejam parceiros da gente. Dialoguem com a gente, como dialogamos com a BaianaSystem. Quando Baiana começou era um problema… nós tínhamos dificuldade de relacionar com a banda. Não entendia como era o rock. Aquele rock de abre a roda, e quando a briga começava, não era briga, era a forma como eles brincavam.
Houve diálogo com a banda?
Houve. Com a banda. Eles estiveram no meu gabinete, me explicaram. 
A gente pode esperar um Furdunço tranquilo?
Muito mais tranquilo. Para essas bandas, BaianaSystem, as que citei agora que essa pessoa [Kannario] está falando aí, nós vamos adotar posturas diferentes. Você não vai ver a polícia no miolo, no meio das pessoas disputando espaço. Vamos ficar nas laterais acompanhando. As pessoas vão ver a polícia distante. Na hora que tiver os problemas, nós formos chamados ou vivenciamos alguma cena, nós chegaremos. O grande problema de Salvador, que às vezes gera violência, é disputa de espaço. Um lugar pequeno com polícia no meio é complicado. Vamos adotar essa postura esse ano. Já que você citou aqui essa pessoa. Eu fui a primeira pessoa, quando esse artista começou e dialogou comigo. Tanto que no primeiro ano ele me chamava de pai porque dei conselhos a ele. E ele mudou a postura naquele ano. Quando passava no camarote, ele fala: ‘Obrigado, meu pai. Estamos aí’. Quando acabavam as músicas ele rezava o “Pai Nosso”. Quando as brigam aconteciam ele pedia para pegar nas mãos. E de uma hora para outra mudou o comportamento. Queria que ele voltasse a rezar o “Pai Nosso” com a gente. Não temos a rancor em relação a essas bandas. Não posso fomentar guerra. (Bahia Notícias)