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Proibição de festas ‘paredão’ divide opiniões entre representantes políticos da esquerda

Foto: Divulgação SSP/BA

A decisão do governador Rui Costa (PT) em proibir as festas ‘paredão’ no estado dividiu opiniões de figuras políticas da esquerda baiana. A medida foi anunciada na quarta-feira, 13, após a morte de seis pessoas em um evento da modalidade no bairro do Uruguai.

Popular em grande parte dos bairros periféricos de Salvador, as festas ‘paredão’ se mantiveram mesmo durante a pandemia da Covid-19, ainda que de maneira menos expressiva. Com o relaxamento das medidas preventivas, os encontros voltaram a ser mais frequentes.

“O que a cultura periférica precisa é de investimento público. Não podemos, de forma alguma, caracterizá-la como algo errado ou ruim, por se tratar de uma festa da juventude periférica. É preciso que o poder público garanta lazer de qualidade e segurança no espaço urbano da periferia, porque essa juventude não pode pagar por espaços privados. O papel da prefeitura é garantir o espaço público e o estado, a segurança”, disse o presidente do PT  de Salvador, Ademário Costa. 

Deputado federal pelo PT, Afonso Florence rebateu as críticas que Rui vem sofrendo. De acordo com o parlamentar, a medida do governo do estado estipula “regras para garantir mais segurança” nas festas, de modo que os “paredões continuam a ser permitidos”.

“Os organizadores [das festas ‘paredão’] só precisam informar às autoridades”, pontuou Florense, ao destacar que o secretário de Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino, “tem feito um ótimo trabalho”. 

“A inteligência funciona, há dados confiáveis e a decisão de aumentar a segurança durante a realização de eventos [paredões] certamente  foi tomada para dar mais segurança para as pessoas que participam e para a sociedade em geral.”, endossou Florense. 

“É preciso estabelecer um equilíbrio entre o direito daqueles que querem se divertir e daqueles que precisam trabalhar e descansar. A cidade é de todos e não de determinadas bolhas. Tanto daqueles que gostam de som alto e aglomeração quanto daqueles que se sentem incomodados. Trata-se de uma questão complexa e que merece ser melhor debatida.”, avaliou a deputada federal Lídice da Mata (PSB). 

A líder da oposição na Câmara Municipal de Salvador, vereadora Marta Rodrigues (PT), cobrou  “atuação do município” para regulamentar as festas e disse que o poder público não pode criminalizar os eventos na periferia da capital baiana. 

“O paredão é uma expressão cultural como várias outras que existem em Salvador. Não podemos dar vazão, nem compactuar, para criminalização de nenhuma delas.  O que tem que ter é a ação do poder público municipal, como acontece em qualquer outra festa, como Lavagem do Bonfim, Festa de Iemanjá, Carnaval, festas de largo, dentre tantas outras, com fiscalização, manutenção do direito de ir e vir”, destacou a vereadora. 

“O paredão é uma expressão cultural de representatividade popular, e assim como todas, precisa da atuação do município para ordenar e fiscalizar.”, completou Marta.  

“Paredão é cultura. Cultura das juventudes, das populações negras da cidade, das periferias, expressão de sujeitos, comunidades e territórios, espaços de encontro e convívio. Cultura é emancipação e direito, e quando criminalizada é argumento de segregação, preconceito, racismo.”, criticou a vereadora Maria Marighella (PT). 

A edil comparou a medida do governo do estado com a proibição, no passado, do samba e dos candomblés. “O samba já foi proibido. Candomblés já foram proibidos. Vira e mexe o debate sobre o funk como cultura brasileira toma a opinião pública.

Agora nos vemos em Salvador com mais um falso dilema. Qual posicionamento a democracia deve ter diante de seus conflitos? Políticas. As culturas das periferias precisam de políticas, mediações e também reconhecimento.”, disse. 

Candidata a Secretária Municipal da Juventude do PT-Salvador, Heloisa Costa afirmou que a decisão do governador é “excludente”. 

“A decisão do companheiro Rui Costa é excludente. Assim como foi com o samba, a capoeira, proibir os paredões significa mais uma vez marginalizar a cultura da juventude negra, pobre e periférica do Estado da Bahia. Necessitamos da legalização do paredão, garantido assim a proteção dos nossos jovens. Do mesmo jeito que as festas dos ricos são financiadas pelo Estado, inclusive com a garantia de segurança pública, o povo negro, pobre, periférico também precisa de políticas públicas que garantam o direito ao lazer e a proteção de suas vidas.” (A tarde)