Estudos nacionais e internacionais apontam para uma maior incidência de câncer de forma precoce entre os mais jovens, de 20 a 39 anos. Entre os principais motivos, estão a mudança de hábitos e padrão de vida, além de outras formas de diagnosticar a doença, que aumenta prevalência de pessoas com o problema, de acordo com os especialistas. No Brasil, a estimativa é de 704.080 casos de câncer em 2023, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em parceria com o Ministério da Saúde (MS). Enquanto isso, na Bahia, o total fica em 38.840 casos e, na capital baiana, 8.980. Segundo a médica coordenadora do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB) e especialista em tumores ginecológicos e câncer de mama, Luciana Landeiro, o número de novos casos tem aumentado, mesmo com a subnotificação.
“Há vinte anos, o Inca estimava algo em torno de 700 mil novos casos entre 2023 a 2025 no Brasil. O principal fator de risco para o aparecimento do câncer é o envelhecimento, pois nossas células vão envelhecendo, tem o acúmulo de alterações no DNA”, informa Luciana.
No entanto, ela explica que os especialistas têm notado há algumas décadas e um estudo da BMJ Oncology concluiu essa tendência, com os dados entre os anos de 1990 e 2019 de 44 países para um público jovem. Assim, 14 tipos de câncer, a maioria afetando o sistema digestivo, estão diretamente ligados ao aparecimento na população jovem. “Não é que todos os tipos de câncer estão aumentando de forma igual na população jovem. Alguns são o câncer de colorretal, de intestino, de mama, de pulmão e de nasofaringe, que têm aumentado de forma considerável”, acrescenta.
Entre os principais motivos da mudança para o público mais jovem, segundo a médica, estão a obesidade, o tabagismo, hábitos alimentares ruins, com defumados e embutidos, a exposição à poluição e a piora do padrão de sono.
Um exemplo está nos casos de câncer de mama no Brasil. Dos dois mil pacientes analisados pelo estudo do Inca com menos de 40 anos, 17% tinham diagnóstico positivo da doença. Já o câncer de colo de útero, assim como outros, está relacionado ao vírus HPV.
Orientações
Com o intuito de modificar a realidade, que o MS preconiza o acompanhamento dos exames de mamografia a cada dois anos a partir dos 50 anos, a Sociedade Brasileira de Mastologia revisou a necessidade para a partir dos 40 anos, assim como os rastreamentos de outros tipos de câncer.
“Precisamos discutir essa temática porque temos diversas dificuldades no SUS para oferecer assistência para essas pacientes, que precisam ser incluídas nesses programas de rastreamento. No ano passado, a US TaskForce também alterou a recomendação da colonoscopia a partir dos 45 anos, que, antes, era a partir dos 50”, afirma a médica.
Tanto Luciana, quanto o cirurgião oncologista Adriano Carvalho, recomendam os rastreamentos mais cedo de doenças, principalmente aqueles que têm histórico na família e as mudanças de hábitos.
“A incidência, muitas vezes, vem diminuindo, mesmo que pouco. Mas, a prevalência tem aumentado, com os casos novos e os antigos, porque as pessoas estão vivendo e tratando a doença. Hoje, você também diagnostica mais. Esse componente de acometer os mais precoces sempre teve, mas vem aumentando, provavelmente, pelos hábitos”, pontua Adriano.
A produtora Erika Pacheco, 36 anos, está no final de tratamento para o câncer de mama e foi diagnosticada em março do ano passado. “Em menos de cinco dias, ele tinha crescido muito e parecia uma azeitona. Aí, percebi que tinha algo sério ali com caroços grandes e calcificados. Depois, eu fiz todos os exames de mamografia e biópsia, além de 12 sessões de quimioterapia. Eu fui diagnosticada com um dos mais agressivos tipos de câncer de mama, que cresce rapidamente. Precisei iniciar a quimioterapia de imediato. Que bom que descobri logo e fiz um tratamento de excelência”, comenta Erika. (A Tarde)