A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta segunda-feira (2), o primeiro tratamento de uso semanal para sobrepeso e obesidade. O Wegovy (semaglutida 2,4mg) é produzido pela farmacêutica Novo Nordisk, que também fabrica o Ozempic — medicamento para diabetes usado “off label” para a perda de peso.
A semaglutida é um agonista receptor do GLP-1 RA, muito semelhante ao hormônio humano GLP-1, que age na produção de insulina e na sensação de saciedade. A molécula induz a perda de peso e reduz a fome do paciente. Esta combinação contribui para que o indivíduo coma menos e, consequentemente, tenha um déficit calórico e emagreça.
O medicamento é comercializado nos Estados Unidos desde 2021. A decisão da Anvisa, publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (2), foi baseada nos resultados do programa de ensaios clínicos STEP (Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity) realizado com cerca de 4,5 mil pessoas de todo o mundo.
No estudo, um em cada três pacientes perdeu 20% de seu peso corporal durante o tratamento com Wegovy. Os participantes que usaram o medicamento perderam, em média, 17% do peso corporal em cerca de 17 meses. Os voluntários que fazem parte do grupo de controle, com uso de placebo, perderam apenas 2,4% de massa durante o período.
Ao final do estudo clínico, um em cada três pacientes havia perdido 20% de seu peso corporal. Cerca de 80% conseguiram reduzir 5% ou mais do peso com o uso semanal da semaglutida.
“Com essa aprovação, entramos oficialmente em uma nova era no tratamento da obesidade, com resultados de redução de peso nunca antes vistos”, afirma o médico endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
O médico endocrinologista Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), avalia a aprovação do uso da semaglutida em dose de 2,4mg para o tratamento da obesidade como um marco importante para o tratamento da doença e das pessoas com diagnóstico de obesidade.
“Temos um pequeno arsenal de medicações disponíveis hoje e esta chega, como o remédio que nos estudos demonstrou a maior potência em redução de perda de peso de forma sustentada e segura”, afirma.
O médico lembra que a terapia farmacológica deve ser associada a mudanças de hábito de vida, com acompanhamento de um endocrinologista e de uma equipe multidisciplinar.
Durante os ensaios clínicos, alguns participantes que fizeram uso do Wegovy apresentaram eventos colaterais considerados leves e transitórios. Os relatados com mais frequência foram de natureza gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia, constipação e dores abdominais.
Embora o Wegovy utilize a semaglutida, mesmo princípio do Ozempic – medicamento para diabetes tipo 2 que ganhou popularidade pelo uso off label para a perda de peso –, tratam-se de produtos distintos. A farmacêutica destaca que os tratamentos possuem diferentes indicações, dosagens, informações de prescrição, esquemas de titulação e, por isso, não são intercambiáveis.
Ainda não há uma data prevista para que o Wegovy chegue ao mercado brasileiro. A próxima etapa do processo de incorporação será a definição de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos