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Cigarro eletrônico já causa lesões no ouvido, nariz e garganta, afirmam especialistas

Apesar de toda a campanha contra o tabagismo, que tem o Dia Nacional de Combate ao Fumo em 29 de agosto, e a ênfase do período de alerta para o câncer de pulmão (Agosto Branco), especialistas médicos já chamam a atenção para um novo vilão – o cigarro eletrônico – e o comprometimento de outros órgãos do nosso corpo, como nariz, ouvido e garganta. Para o otorrinolaringologista André Apenburg, diretor médico da Otorrino Center, empresa que integra o Grupo H+Brasil, uma das maiores holdings de saúde com multiespecialidades do país.

a chegada do cigarro eletrônico tem atraído principalmente os adolescentes, pelo formato, novidade e falta de informação sobre o impacto nocivo que causa. Já é possível, nas palavras dele, observar uma geração que havia abandonado o cigarro retornar para “versões atualizadas do mesmo vício”. “Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) não são nada seguros, pois agregam muitas substâncias tóxicas, além da conhecida e viciante nicotina”, explica.

Mas o que poucas pessoas sabem é que o uso do cigarro eletrônico já está sendo associado também a grandes estragos na região da garganta, isso porque as toxinas causam irritação na mucosa que reveste toda a região da faringe e laringe, provocando um processo inflamatório crônico que pode levar ao aparecimento de tumores na garganta. “Os danos podem comprometer a fala, causar alterações de deglutição e motricidade de toda essa região, e isso inclui não somente o cigarro em sua versão eletrônica ou tradicional, mas também o charuto, cachimbo, narguilé e similares”, explica o médico Paulo Perazzo, otorrinolaringologista, especialista em laringe e voz.

Os problemas não se restringem somente à garganta, pois os males do ‘vape’, como também é conhecido o cigarro eletrônico, também ocasionam perda de audição, por conta da diminuição de fluxo sanguíneo na cóclea, órgão localizado na parte interna dos ouvidos e responsável por captar e transmitir os sons ao cérebro”, explica o otorrinolaringologista Edson Bastos, especialista em otologia. Segundo ele, a combinação de substâncias químicas tóxicas altamente nocivas dificulta a oxigenação da cóclea, causando prejuízos irreversíveis às células do ouvido. Ainda de acordo com o médico, o cigarro eletrônico traz entre os seus componentes, por exemplo, o cianeto de hidrogênio – gás utilizado para matar baratas, cupins e outras pragas -, que age bloqueando a recepção do oxigênio pelo sangue, quando utilizado em altas concentrações.

Se faringe, laringe e ouvido sofrem com o uso do cigarro, o mesmo ocorre também com o nariz, um dos órgãos mais afetados por estar próximo à fumaça. De acordo com o otorrinolaringologista Robson Vieira esta exposição amplia a irritabilidade do órgão, aumenta as chances de inflamações e piora os sintomas clínicos de quem já tem rinite, por exemplo.

Os especialistas são unânimes em reafirmar que é de extrema importância buscar um otorrinolaringologista em casos de rouquidão ou alterações na voz, problemas na respiração e audição, para que o motivo real do problema seja identificado e tratado. Mais que isso, alertam também para um outro tipo de câncer com alta prevalência em fumantes (e também em pessoas que consomem muita bebida alcoólica), como o de boca, que atinge os lábios e o interior da cavidade oral, incluindo língua, gengiva e bochechas. Em longo prazo, o tabagismo pode ainda gerar halitose (mau hálito), que pode ser agravada quando a higiene bucal não é realizada de forma adequada ou devido a causas sistêmicas associadas, como refluxo e doenças pulmonares e de fígado.

Riscos à saúde e principais doenças

Considerado um vício de cunho social, o tabagismo é uma doença causada pela dependência física e psicológica à nicotina, que afeta não apenas a saúde do fumante, mas também a das pessoas que convivem com ele. Este hábito tão agressivo ao corpo humano pode desencadear alergias respiratórias, problemas otorrinolaringológicos, dores de cabeça e irritações nos olhos, entre outros males. Os fumantes ainda são mais propensos a, pelo menos, 50 patologias diferentes, como doenças cardiovasculares e câncer, por exemplo. Frente a todos esses danos, os médicos acreditam que a discussão sobre o tabagismo não pode cessar e que é preciso conscientizar a população cada vez mais, pois é notável um crescente aumento do hábito de fumar em pessoas mais jovens – num fenômeno que se observa agora com mais nitidez por causa do modismo do cigarro eletrônico.

Dados estatísticos

O tabagismo é dado como causa em cerca de 90% de todos os casos de câncer pulmonar no mundo, sendo responsável por ampliar em cerca de 20 vezes o risco de surgimento desta grave doença. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é estimado que durante o triênio 2023-2025 em torno de 32 mil novos casos de câncer de pulmão sejam diagnosticados a cada ano. Estatísticas indicam que cerca de 162 mil mortes poderiam ser evitadas anualmente se o tabaco fosse deixado de lado, pois ⅓ destes óbitos são decorrentes de algum tipo de neoplasia relacionada ao hábito de fumar.

Apesar do Brasil possuir um dos menores índices de fumantes do mundo, cerca de 10% da população acima de 18 anos, segundo o próprio INCA, e ser reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um exemplo no combate ao cigarro, os desafios não param. Um deles e talvez o mais importante atualmente seja conter a febre dos cigarros eletrônicos e outros dispositivos de ‘vape’ que têm conquistado principalmente os jovens.

Não é novidade que o uso de cigarro eletrônico faz mal à saúde, porém, estudos revelam que ele pode ser muito mais nocivo do que parece. De acordo com uma pesquisa recente feita pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, que tem o Programa de Tratamento do Tabagismo, os níveis de nicotina encontrados em usuários desse aparelho equivalem ao consumo de 20 a 60 cigarros convencionais por dia. Além de trazer diversas doenças respiratórias, a Medicina já reconhece a existência da EVALI, sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico. A condição foi descrita pela primeira vez nos Estados Unidos, em 2019. 

(Atualiza Bahia)