Foto: CDC/Unsplash
Com expectativa em alta pela concretização de uma da vacina para o novo coronavírus e a possibilidade da produção em larga escala pela farmacêutica Pfizer, apesar dos efeitos colaterais, o pesquisador baiano Gustavo Cabral, que comanda o centro de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apontou que, em tempos “normais”, os testes seriam mais exigentes e a fase de testagem em humanos demandaria uma eficácia maior em animais.
“Ficamos sem saber explicar, porque não tivemos acesso aos artigos das pesquisas em jornais específicos e científicos. No geral, nas condições normais, veríamos o melhor modelo para cada vírus e bactéria para os animais testados. Então, são tirados dados, os efeitos colaterais são vistos e fazemos testes com pessoas em grupos. Só passa de uma fase para outra com resultados. Tudo agora é tudo muito louco, pressão social, econômica”, explicou ao Bahia Notícias.
Gustavo comentou que, apesar da pressa, não se pode “pular etapas”. “Têm testes com animais que não foram bem feitos. Em uma condição normal, nenhuma dessas vacinas estariam na condição que estamos. Para justificar a testagem em humanos, os testes tem que ser em um nível de excelência. Estamos em um momento atípico”, reforça.
Ainda segundo o pesquisador, o Brasil ainda “corre atrás” dos países desenvolvidos na pesquisa e a tão conhecida burocracia por aqui atrapalha o caminhar dos estudos.
“Temos uma capacidade científica surreal. Porém, a logística é deprimente. Infelizmente, as coisas demoram mais aqui, importamos muita coisa. Os produtos para a pesquisa enfrentam muita burocracia; demoram meses para liberar… a Anvisa, a Receita Federal. Não temos como competir. Não só pela questão financeira, mas temos uma instabilidade política. Corta-se verba de pesquisa”, critica.
Graduado em ciências biológicas na Uneb (Universidade do Estado da Bahia), ele fez doutorado na USP (Universidade de São Paulo), com sanduíche no exterior em Portugal [termo usado para designar uma parte dos estudos feita em outro país], além do pós-doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra e em Berna, na Suíça.
“Voltei para o Brasil como pesquisador financiado pela Fapesp, e por ser pelo estado de São Paulo, viemos para a faculdade de medicina da USP. Quando partimos para estudos de larga escala, o Butantã e o Oswaldo Cruz dão o apoio. Não buscamos apenas a vacina contra o coronavírus. Pesquisamos outras doenças, como Zika, Chikungunya”, pontua.
Especificamente para a vacina contra a Covid-19, o professor acredita que a produção vai depender de quem está executando o projeto, qual será a empresa e onde essa vacina vai trabalhar. De acordo com Gustavo, produzir milhões de doses não será a coisa mais difícil, porém para as bilhões de doses esperadas pelo o mundo já seria “um pouco mais complicado”.
“Depende muito do alvo da vacina. Vírus atenuado, que não causa a doença, o vírus inativado, essas são as mais tradicionais. Tem gerado bons resultados. Tem a possibilidade de efeitos colaterais o que necessitaria do desenvolvimento de novas tecnologias. A que eu trabalho são de partículas semelhantes ao vírus, que tem características como as outras, mas com outras estruturas”, finaliza.