Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, estão estudando uma aplicação alternativa para as vacinas contra a Covid-19. Em vez de utilizar injeções, eles pretendem aplicar o imunizante por meio de um adesivo para a pele. Além de a aplicação ser indolor, esse novo tipo de vacina pode ser armazenado em temperatura ambiente, não necessita de auxílio profissional para a aplicação e ainda é capaz de desencadear uma maior resposta imunológica.
O adesivo, menor do que uma unha, possui 5 mil microagulhas de plástico com vacina na ponta. Neste caso, é usado o imunizante HexaPro, que está sendo desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Texas, nos EUA. Ele ainda está em fase de testes clínicos, mas já se mostrou resistente a altas temperaturas e também possui um menor custo de produção quando comparado às vacinas já disponíveis no mercado.
Por enquanto, as vacinas adesivas foram testadas apenas em camundongos. Os roedores que receberam duas doses do imunizante apresentaram uma alta produção de anticorpos, mas aqueles que receberam apenas uma também ficaram protegidos (não adoeceram quando expostos ao coronavírus). O estudo completo foi publicado na revista Science Advances.
A camada superior da pele possui uma rede de células imunes especializadas que formam uma barreira contra bactérias e vírus. Elas são responsáveis por enviar sinais sobre patógenos invasores para o resto do corpo. Por conta disso, os pesquisadores acreditam que a vacina adesiva tende a resultar em uma resposta imunológica maior com o uso de dosagens menores.
Apesar de o uso de adesivos ser vantajoso para aqueles que têm medo de agulha, ele não se resume a isso. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), menos de 10% dos países africanos vão conseguir cumprir a meta de ter 40% de suas populações vacinadas contra a Covid-19 até o final do ano. A distribuição do imunizante é afetada, principalmente, pela falta de seringas, agulhas e refrigeradores para o armazenamento adequado.
Em testes, a vacina HexaPro se manteve estável por cerca de um mês no adesivo cutâneo quando armazenada em uma temperatura de 25 ºC. Quando o clima esquentava para 40 ºC, o tempo de vida útil aia para uma semana. A vacina adesiva também é de fácil aplicação: basta pressioná-la na pele com auxílio de um aplicador, o que pode ser feito sem a necessidade de auxílio de um profissional da saúde.
Os pesquisadores planejam iniciar testes em humanos no primeiro semestre de 2022. Ainda é cedo para pensar em uma distribuição ampla desta tecnologia, mas os cientistas acreditam que ela possa ser muito útil no futuro, principalmente para o oferecimento de doses de reforço contra a Covid-19. Afinal, o uso de adesivos não é algo inédito na área da saúde: existem desde adesivos de nicotina, para pessoas que pretendem parar de fumar, até adesivos anticoncepcionais e de insulina.
Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh e da Universidade Carnegie Mellon, ambas americanas, também estão trabalhando no desenvolvimento de vacinas adesivas. O produto criado por eles gruda na pele como um band-aid, sem necessidade de aplicador, e vai se dissolvendo na pele. Cientistas da Universidade Stanford e da Universidade da Carolina do Norte também estudam a possibilidade de produzir uma vacina adesiva a partir de impressão 3D.
por Carolina Fioratti / Superinteressante